23 de março de 2011

Tabacaria "Fernando Pessoa"

Tabacaria

[...] Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu,
Olho a cada um os andrejos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um largato a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do largato remexidamente [...]



Análise do poema (parte)

(Vejo as lojas...) Somos, ou pelo menos nos tornamos vitrines ambulantes (entes vivos) perante olhos que veem e só querem ver a etiqueta.
(E tudo isto é estrangeiro...) Comportamentos regrados, atitudes cuidadas e coercivas.
(E hoje não há mendigo...) Já perguntaram para um mendigo, se ele é feliz? Pois é Pessoa, eu também invejo.
(Talvez tenha existido...) Para muitos já nascera predestinado a tal infelicidade, para outros, não tantos assim, uma infelicidade invejada.

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