Hoje fomos brindados com uma incrível apresentação da Professora Maridelma Laperuta-Martins sobre um assunto muito discutido nos meios de comunicação, nos últimos dias: "o livro que ensina errado".
A discussão foi gerada por conta de um livro direcionado à modalidade educacional "Jovens e Adultos" e aborda o português em suas diversas variações.
O que vem sendo recriminado é o fato da variante popular da língua portuguesa receber tratamento igual ao da variante culta. E eu pergunto, qual é o problema nisso?
A repercussão política, ao meu ver, ocorreu por motivos óbvios. Não se pensa, em momento algum, no que é bom para aqueles alunos do EJA, pensa-se em derrubar a situação. O mesmo aconteceu há poucos meses, em que a discussão era sobre o salário mínimo. Em que a oposição queria subir o salário mínimo para 600 reais. Eles fizeram isso para o bem do povo (é preciso muita ingenuidade para cair nessa)? Não! Simplesmente para "ferrar" com o plano econômico da situação e, de quebra, ganhar um pontinho a favor nas próximas eleições.
Pois bem, não fujamos do assunto.
Pois bem, não fujamos do assunto.
A palestra da professora se polarizou em alguns pontos importantes, dentre os quais abordo esses dois:
- Preconceito Linguístico - Preconceito Social;
- Principal motivo do livro ser condenado.
Para ficar claro o que é preconceito linguístico, introduzo algumas informações que são de extrema importância para esse entendimento. Existem dois tipos, mais conhecidos, de gramáticas, a normativa/prescritiva e a descritiva. A primeira é a gramática "chata", onde está regrada toda a língua. A segunda é a "legal", pois descreve o que de fato acontece no cotidiano das pessoas. Não existe um "certo" ou "errado", o que existe é uma inadequação à situação. Ah José, tem diferença? Claro que tem. Se você "tá" num bar, jogando sinuca e teu colega te corrige, peça para ele olhar a sua volta e dizer quem ali usa a variante padrão da língua portuguesa. Agora, se você vai se direcionar a uma autoridade, você não vai falar como se essa pessoa fosse um amigo teu. "E aí truta, passa o sal".
Tentemos, então, estabelecer uma noção de certo ou errado. Só é considerado errado na língua o que for contra o que estiver previsto em lei e o que ferir a gramaticalidade natural do indivíduo, que provoque o que os estudiosos da língua chamam de "ruído", que fere a inteligibilidade do enunciado. Ou seja, o que se tolera, no meio linguístico, ser taxado como errado, é o que diz respeito à escrita de palavras (o novo acordo ortográfico é uma lei) e o que fere a comunicação, a gramática natural do indivíduo (Os mininu pega a bola -> pega mininu a bola os). Portanto, a questão não é estar certo ou errado. E sim, estar adequado ou não à situação.
Em suma, tudo isso, de ridicularização das pessoas que falam "errado", nada mais é do que um preconceito social, pois quem fala "errado", em sua maioria, são os mais pobres.
O principal motivo pelo qual o livro didático foi martirizado é a questão do uso da concordância. Essa charge possui um título "Usando os plural", nele já fica evidente o uso não-culto da concordância nominal.
Para reforçar a ideia de que preconceito linguístico é uma máscara para o preconceito social, a professora nos mostrou que os erros de concordância na língua, semelhantes ao que vemos hoje, surgiram pelo fato de que aqui no Brasil, não existia uma raça "pura". Aqui havia índios, africanos e, por isso, o nosso idioma, acabou sendo manchado. Enquanto isso, em Portugal, os "puros" faziam uso do bom português (Ai, que nojo!).
Para finalizar a discussão, o livro não ensina errado e não preconiza o uso da forma tida como errada. O livro atenta para o uso da variante culta, porém, ele alerta para as outras variantes e orienta para o respeito das demais variantes da língua portuguesa e seus falantes. Veja um vídeo da entrevista do professor Ataliba Castilho, aposentado, que ministrava aulas na USP. Atenção, além de linguísta, o cara também é gramático.
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ResponderExcluir!?
ResponderExcluirolá, meninos, so agora vi este blog de vcs, porque dei um google em mim mesma e descobri meu nome escondidinho ai no texto de vcs... muito bom, alias.. hehe, continuem assim no caminho do bem! hahahaha
ResponderExcluirabração e divulguem mais o blog!
maridelma