A escolha de Gabriel

A chuva e a escuridão pareciam não querer abandonar seu destino, caiam assustando todos, cada vez com mais intensidade.
Miguel não levantou a cabeça ao ouvir um forte barulho, apenas cumprimentou Junior com um Oi.
-Oi, eu disse que perceberia minha chegada.
-Pois é, Junior, e eu não duvidei em momento algum.
Enquanto indicava uma cadeira para Junior sentar, Miguel começava a perguntar:
-Por onde começamos?
-Miguel, primeiro quero te contar uma pequena história e te avisar que, dependendo de tua resposta, não mais terá volta.
-Vamos em frente!

E assim Junior começou:
-Muitos humanos se interessam por mitologia, alguns já se ofereceram para me ajudar nessa busca, outros apenas leem livros e sabem o nome de alguns deuses. Mas Miguel, são poucos humanos que são dignos dessa tarefa que logo mais lhe oferecerei... e para aceitá-la, você deve saber onde está se envolvendo.
Miguel, empolgado, interrompeu o colega:
-Gabriel sabia onde estava se metendo?

-Gabriel sabia, ele aceitou a missão que lhe foi confiada. O que aconteceu com ele foi um golpe de Moros, o deus da sorte e do destino, e não incompetência, como alguns pensam...
-Quem pensa isso?
-Mais tarde pode ser que lhe conte. Mas agora deixe-me continuar, vou te contar o motivo dessa escuridão.
-Tem relação com a escolha de Gabriel?
-Na verdade, com a falta dessa escolha, Miguel.
Junior prosseguiu:
-Gabriel é um rapaz muito inteligente, foi por curiosidade de criança que ele começou a pesquisar mitologia, quando Isabel lhe contou sobre um sonho que ela tinha com frequência. Começou investigando as caracteristicas da pessoa que perseguia sua irmã nesses pesadelos: um homem de máscara branca. Associou esses pesadelos à mitologia, pois Isabel lhe contara que começou a sonhar após um filme sobre os deuses mitologicos que ambos havia assistido juntos. Foi então que o garoto achou livros sobre a Caixa Abnara.
-Caixa Abnara?
-Isso, você a conhece como Caixa de Hécate, o que é um absurdo, mas o real nome dela é, ou era, esse, a Caixa Abnara, que significa "luz da sabedoria". Continuando... foi devido aos sonhos de Isabel que Gabriel chegou até nós. Do início das pesquisas até as ligações e as descobertas foram poucos meses, e coincidiu com a descoberta da localização da Caixa Abnara.
-E como você chegou até ele?
-Na verdade, foi ele que chegou até mim. Se você olhar na página 58 desse segundo livro, o amarelo, vai ver que tem um feitiço... pois é, ele que me achou.
-Mas porque Gabriel faria isso?
-Áh, ele se preocupa muito com Isabel, faria tudo por ela, pensava que se me encontrasse ele poderia evitar esses pesadelos.
-E poderia?
-De certa forma sim, havia essa esperança até ontem, mas... a escolha demorou muito e Hécate conseguiu dominar, agora só temos uma solução, mas para isso preciso de tua ajuda e preciso que prometa guardar segredo, Isabel não pode nem sonhar com isso.
-Bom, mas tudo começou pelos sonhos dela.
-Você me entendeu, Miguel.
-Como Gabriel morreu?
-O que? Morreu?
-É, Isabel viu o corpo dele, se bem que...
-Que...
-Que só ela viu o corpo e ela me disse "se é que ele morreu"...
-Anh??
-Junior, Isabel viu o corpo do irmão no chão, aqui perto de casa, onde tem uma loja de Móveis Usados, encontrou o corpo e esses livros, mas quando ela foi chamar ajuda, o corpo havia desaparecido.
-É claro né, ele não morreu!
-Como? O que houve então?
-Ele achou a caixa Abnara, abriu-a e... acho que ele não havia lido a página 93 do livro azul, onde fala das consequências provenientes de se abrir a Caixa.
-Vai dizer agora que ele foi abduzido?
-Acho que você também não leu a página 93 do livro azul. É mais ou menos isso. Se ele abrisse a caixa sem ter cumprido certas tarefas, ele seria abduzido, digamos assim...
-E o que aconteceria?
-Ele teria que cumprir essas tarefas dentro da Caixa e se conseguisse terminá-las no tempo certo, poderia escolher entre libertar a escuridão ou a luz.
-Só por curiosidades, que tipo de tarefas?
-Coisas simples, para nós.. Mas Gabriel achou dificil. Uma das tarefas era chamar a atenção de alguém para a Caixa Abnara, para que esse alguém pudesse ajudá-lo.
-E esse alguém... eu?
-Exatamente.
-E como ele chamou minha atenção?
-Como? Isabel te contando os sonhos dela não foi coincidência. E aquele sonho que você teve e não contou para ela, esqueceu dele Miguel?
-Claro que não o esqueci, foi tão real.
-Pois é.
-Mas porque Gabriel demorou tanto para escolher?
-Porque ele não sabia se escolhia libertar a luz ou ganhar a liberdade...
-E qual foi a escolha dele?