Capítulo Paralelo IV

Na manhã seguinte, Julio lembrou-se do sonho que teve, lembrou-se de que uma moça havia comido uma maçã e que uma maçã parecia ter dado um largo sorriso com esse ato. Lembrou-se então das palavras de Haziel "da curiosidade, a desobediência; da desobediência, a morte".

A inocência também teria ido embora junto com a curiosidade.

Vestiu-se, tomou o café da manhã e saiu para a escola. Não demorou muito a chegar. Foi divertido encontrar seus coleguinhas na fila. Marcos, seu melhor amigo, estava a sua frente, e Julio lhe disse:

- No recreio, preciso falar com você. É importante.

A chuva do dia interior seguia a cair, parecia que cada vez mais forte, e, por isso, eles teriam o recreio na sala de aula. Julio ouviu a professora dizer bem baixinho em sua mesa "Será que precisaremos de outro Noé?".

Ele virou-se para falar com Marcos, que sentava à carteira de trás:

- Marcos, tenho algumas perguntas para te fazer.

- Faça, Julio. - respondeu o amigo.

- Tudo bem, Marcos, você tem amigo imaginário?

- Humm, eu não tenho, mas o Fernando, uma vez, me disse que tinha, disse que tinha vários, e que eles até escreviam para ele.

- Então, depois converso com ele. - disse Julio pensativo. - E você acredita que anjos da guarda existem?

- Mamãe me disse que eles existem, mas eu nunca vi um. Eu acredito que sim, mamãe não mentiria pra mim. - respondeu o outro.

- Marcos, as coisas estão estranhas. Não sei como vai ser daqui para frente.

A face de Marcos ficou transformada, o medo parecia ter pousado sobre o garoto, que disse:

- Sabe o que é, vou pedir pra professora se posso ir ao banheiro.

A manhã prosseguiu como um dia comum. A aula acabou, e ele voltou para casa.

[continua...]