O meu tempo já passou. Eu teimo em não aceitar. Agora é só pensar em tudo o que podia ser bom, diferente, novo... Vou precisar chorar bastante. Eu não tenho mais família. Nós nunca fizemos um brinde a nada, nunca festejamos o Natal, o Ano Novo, o aniversário de alguém.
Não temos nenhuma foto juntos, com papai e mamãe; nem nós sozinhos... Os amigos vão sumindo lentamente. Casam, arrumam um emprego melhor, novas amizades, novas roupas, novos rituais, os filhos... Eu vejo pais se matando para sustentar os caprichos, a insubordinação, a perversidade e a tirania dos filhos, impostos pela sociedade em geral: colégio, faculdade, natação, informática, psicóloga, inglês, palavrões, clube, mochilas, tênis, abrigos, xingamentos, uniformes... Uma garota aí do filme disse "Nossa, como pode dar certo, vamos começar tudo de novo!"
O que ela não sabe é que as coisas aconteceram exatamente assim porque eu precisava afastar-me, livrar-me, libertar-me. Ainda bem que a escolha não foi minha. Eu não fiz nada. Ofereci meu amor, meu tempo, minhas ansiedades, paranoias, divagações e carências em forma de música, poesia e sonhos. Nada mais. O problema não deve estar comigo. Com quem, já não importa.
"Ildo Carbonera"
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