O
livro “Guardião de Memórias” foi escrito por Kim Edwards e é um dos livros mais
vendidos do ano de 2008. Um Best-seller e esse é um dos motivos pelos quais
você provavelmente não lembre desse livro.
Trata-se
da história de David Henry, um médico cuja preocupação sempre foi ajudar as
outras pessoas, da melhor maneira possível. Crescido em uma família humilde e
de poucas condições econômicas, lida com a grande tristeza de ter perdido uma
irmã quando era adolescente. Nesse momento que decide ser médico.
A
organização do livro é muito curiosa, a divisão principal é feita por datas.
Tudo começa em Março de 1964 com a senhora Norah Henry entrando em trabalho de
parto, prestes a dar a luz aos gêmeos Paul e Phoebe. O menino forte e bonito; a
menina, “mongoloide”, era assim que viam as pessoas com Síndrome de Down.
David
Henry decide por entregar a menina para a enfermeira Caroline Gill, para que
ela deixe a criança em um abrigo e mente para a sua esposa, afirmando que a
garotinha tenha nascido morta.
A
história se desenvolve a partir desse fato. Antes de julgar os personagens é
preciso interpretar a mentalidade humana do período de 1964. Se ainda hoje há
muito preconceito com os portadores da Síndrome de Down, imagine no ano citado.
Além disso, crianças com essa síndrome geralmente morriam por problemas
cardíacos. Havia uma crença por parte do doutor Henry de que a menina não
resistiria por muito tempo.
Por
me considerar um estudioso da área de Letras, partidário e predisposto a
discutir questões relacionadas tanto à Linguística, quanto à Literatura, pode
parecer que sou contrário a obras comerciais, Best-sellers, no entanto, penso
que esse romance com o objetivo de venda deve ser lido e apreciado cada qual
com seu objetivo. É possível notar grandes qualidades na trama construída por
Edwards.
A
autora se faz astuta na construção de personagens. O doutor Henry se sente
culpado por esconder um segredo tão importante. Norah Henry, esposa do médico,
torna-se irritante, sobretudo, quando o trai, tendo uma transformação enorme,
deixando de ser coitadinha e se tornando uma mulher mais autônoma.
É
possível acompanhar o desenvolvimento das crianças. A história se desenrola até
o dia 1º de novembro de 1989. É possível ver Paul quando criança, aos seis
anos, aprendendo a andar de bicicleta, aos treze tendo suas primeiras
rebeldias, aos dezesseis escolhendo estudar música. Phoebe por sua vez tem de
se adaptar ao mundo, Caroline Gill sempre lutando para garantir os direitos da,
então, filha.
Henry
recebe um presente de Norah, uma câmera fotográfica e, com ela, decide
registrar os momentos que passa. Ele se torna referência na arte da fotografia,
sendo convidado a dar palestras.
A
construção da trama é muito bem explorada por Kim Edwards e faz com que o
leitor se envolva e passe a torcer por certos fatos, que, no meu caso, não
ocorreram, como por exemplo, que o médico desconte as traições da esposa.
Pelo
bom emprego dos conhecimentos medicinais e de termos da área, acredita-se em
três possíveis explicações, a autora é médica, tem grande relação com a área da
medicina, ou pesquisou muito. Qualquer opção é admirável e garante crédito ao
que foi registrado nas páginas do livro.
Nos
últimos capítulos, uma grande surpresa para o leitor acontece, algo inimaginável
para padrões de um romance em que se conta a história de alguém. Não vou
entregar o final, mas um fato é surpreendente.
Em
suma, é um bom livro, é indicado a quem queira um livro com uma boa carga de
valores e reflexões a respeito da vida.
Sentiu-se culpado por June estar deitada na cova, com um monte de terra por cima, e ele continuar ali em pé; estava vivo, e a respiração entrava e saía de seus pulmões; ele a sentia, assim como o coração batendo. Vou ser médico, disse, e a mãe não respondeu, mas, passado algum tempo, ela acenou com a cabeça e se levantou, tornando a grudar o suéter no corpo. David, preciso que você pegue a bíblia e vá lá no alto comigo fazer uma oração. Quero que as palavras sejam ditas formalmente e direito. E, assim, os dois subiram juntos a colina. Estava escuro quando chegaram ao topo; ele parou sob os pinheiros, com o vento forte soprando, e leu, à luz bruxuleante da lamparina de querosene: O Senhor é meu pastor. Nada me faltará. Mas falta, pensou consigo mesmo, enquanto dizia as palavras. Falta. E a mãe chorou e os dois desceram a colina em silêncio até a casa, onde ele escreveu uma carta ao pai para lhe dar a notícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário