8 de julho de 2015

ANONIMATO
     Pedro era triste e chorava muito. Desde os sete anos, sentia no peito uma dor tão ruim, que era capaz de passar longas horas acordado durante a noite. No dia seguinte ele levantava sorrindo para a família, dizendo que tudo estava bem.
     Roberto cresceu. Aos quinze anos ele não era mais feliz do que fora anteriormente. Não tinha muitos amigos na escola e ninguém o chamava para sair. Seus pais gostavam disso, pois achavam que assim era grande a certeza de que o filho não entraria no mundo da marginalidade.
     Os irmãos de Guilherme eram diferentes. Eram mais novos e mais alegres. Tinham amigos e se divertiam. Os pais não tinham medo que isso resultasse no caminho marginal.
     Aos dezoito anos, Paulo passou no vestibular. Ele não foi parabenizado ou coisa assim. Ele passou e, passando, tudo estava como deveria estar.
     Mas João estudava algo que não gostava em um lugar que não gostava, onde era visto como estranho por não ter namorada e não fumar.
     Com vinte e dois anos, Tiago se formou e participou da festa de formatura. Sorriu e tirou fotos com as pessoas que sempre o deixaram de lado.
     E então, Bruno começou a trabalhar na empresa do pai, fazendo o que o pai queria, quando o pai queria. Comprou o carro que a mãe quis. O apartamento que a mãe quis. Foi até os lugares que a família gostava de ir.
     Três anos depois, no dia quatro de março, Júlio casou com Rosana e a festa foi como ela desejou. Ele foi pai de dois meninos e não participou da escolha dos nomes ou da cor das paredes dos quartos.
    Os filhos de Cláudio não gostavam dele e não conversavam sobre nada. Não contavam sobre as escolas ou as brincadeiras.
    Rosana traiu André, e mesmo assim ele foi obrigado a dar metade do seu dinheiro para ela e a pagar uma pensão altíssima para os filhos esquisitos.
     Com quarenta anos, Raul voltou a morar com pais, porque sua mãe decidiu assim.
     Com quarenta e um anos, Rafael morreu vítima da ingestão exagerada de antidepressivos.
     No velório de Samuel, a família chorou e disse, pela primeira vez, "nós te amamos".
     Mas Lucas não ouviu nada.
     Assim como Augusto não sentiu nada.

     PS: Durante toda a vida, Igor também não sentiu nada.


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