ANONIMATO
Pedro era triste e chorava muito. Desde os sete
anos, sentia no peito uma dor tão ruim, que era capaz de passar longas horas
acordado durante a noite. No dia seguinte ele levantava sorrindo para a
família, dizendo que tudo estava bem.
Roberto cresceu. Aos quinze anos ele não era mais
feliz do que fora anteriormente. Não tinha muitos amigos na escola e ninguém o
chamava para sair. Seus pais gostavam disso, pois achavam que assim era
grande a certeza de que o filho não entraria no mundo da marginalidade.
Os irmãos de Guilherme eram diferentes. Eram mais
novos e mais alegres. Tinham amigos e se divertiam. Os pais não tinham medo que
isso resultasse no caminho marginal.
Aos dezoito anos, Paulo passou no vestibular. Ele
não foi parabenizado ou coisa assim. Ele passou e, passando, tudo estava como
deveria estar.
Mas João estudava algo que não gostava em um
lugar que não gostava, onde era visto como estranho por não ter namorada e não
fumar.
Com vinte e dois anos, Tiago se formou e
participou da festa de formatura. Sorriu e tirou fotos com as pessoas que
sempre o deixaram de lado.
E então, Bruno começou a trabalhar na empresa do
pai, fazendo o que o pai queria, quando o pai queria. Comprou o carro que a mãe
quis. O apartamento que a mãe quis. Foi até os lugares que a família gostava de
ir.
Três anos depois, no dia quatro de março, Júlio
casou com Rosana e a festa foi como ela desejou. Ele foi pai de dois meninos e
não participou da escolha dos nomes ou da cor das paredes dos quartos.
Os filhos de Cláudio não gostavam dele e não
conversavam sobre nada. Não contavam sobre as escolas ou as brincadeiras.
Rosana traiu André, e mesmo assim ele foi
obrigado a dar metade do seu dinheiro para ela e a pagar uma pensão altíssima
para os filhos esquisitos.
Com quarenta anos, Raul voltou a morar com pais,
porque sua mãe decidiu assim.
Com quarenta e um anos, Rafael morreu vítima da
ingestão exagerada de antidepressivos.
No velório de Samuel, a família chorou e disse,
pela primeira vez, "nós te amamos".
Mas Lucas não ouviu nada.
Assim como Augusto não sentiu nada.
PS: Durante toda a vida, Igor também não sentiu
nada.
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